quinta-feira, 25 de março de 2010

Contaram-me que o "Brasil" está a brincar com os moçambicanos!!!

Há situações em que ficamos tristes, quase que com um sentimento de vergonha.
Por exemplo, aconteceu-me isso quando li hoje uma crônica, que com a devida vênia republicarei aqui na minha humilde Lanterna Acesa, do renomado jornalista Machado da Graça do jornal “Savana” de Maputo, Moçambique.
Como natural de Moçambique e tendo a minha família sido acolhida neste Brasil de todos, em um capítulo das nossas vidas que tanto precisamos dessa acolhida, a qual passei a amar como também meu sem nunca ter deixado de amar Moçambique. Este país que me fez seu cidadão. Este país que me fez conhecer um metalúrgico  que se fez Presidente da República onde na minha história brasileira não vi um melhor. Um país que me deu dois filhos, uma carioca e um curitibano. Um país que me deu orgulho ao noticiar que faria uma parceria com o meu também Moçambique na transferência de tecnologia com a produção de anti-rectrovirais para o combate do HIV (AIDS / SIDA)...
Mas acabo por ler a tal crônica de um renomado jornalista moçambicano dividindo com os seus leitores a decepção com o andar (!) do tal apoio noticiado pelo “meu” Lula quando de uma visita a Moçambique há uns anos atrás.
Leiam-na e entendam o meu sentimento de tristeza e vergonha!


A talhe de foice
Por Machado da Graça

A brincar com os moçambicanos

Aqui há uns anos, se bem me lembro no decurso de uma visita do Presidente Lula da Silva ao nosso país, o Brasil comprometeu-se a apoiar Moçambique na construção de uma fábrica de medicamentos anti-rectrovirais.
Na altura achei óptimo. Uma prova clara da verdade de uma cooperação sul-sul para a resolução dos gravíssimos problemas que enfrentamos.
Uma transferência da tecnologia, que o Brasil possui, e nós não a possuindo, tanto dela precisamos, dada a actuação da epidemia entre nós.
Mas, rapidamente, o entusiasmo foi esfriando. Os nossos amigos brasileiros foram começando a arrastar os pés, fazendo roçar a chinela na pedra da calçada, e as coisas não andaram.
Tempos depois, muito tempo depois, perante a nossa estranheza, começou a circular a ideia de que, numa primeira fase, nós só iriamos fabricar as caixinhas, e os comprimidos a colocar lá dentro, viriam já feitos do Brasil.
Era uma coisa totalmente diferente daquilo que estávamos à espera. Tecnologia para fazer caixinhas já nós temos há muito mais de 100 anos. Portanto, não iriamos aprender nada. Iriamos empacotar uma exportação de um produto brasileiro.
Mas, ao menos, isso seria rápido. Em 2010 a coisa estaria a funcionar.
Só que agora (Correio da Manhã 22/03/10) descubro que o Congresso Brasileiro aprovou, para começar em 2011, a fabricação das tais caixinhas.
E acho que aqui a brincadeira ultrapassou todos os limites.
Em primeiro lugar, a que propósito é que a fabricação de caixinhas de medicamentos em Moçambique tem que ser aprovada pelo Congresso Brasileiro? Não têm nada mais importante para tratar?
Depois, tenho que perguntar, porque é que só para o ano é que começa a fabricaçpão das caixinhas? Eu, se quiser fabricar caixinhas, vou a uma tipografia, das muitas que existem em Maputo, e, um mês depois, tenho as caixinhas no meu armazém.
E não gasto nada de parecido com os 7,4 milhões de dólares que o jornal diz que os brasileiros vão gastar.
Que raio de negociata está por trás de tudo isto? Quem é que está a ganhar a parte de leão deste bolo enorme?
Quem está a perder já todos sabemos. São os doentes do SIDA em todo o nosso país. Mas, com esses, quem é que se incomoda? Se não gerarem lucros para os poderosos, não existem. Podem morrer, que ninguém se vai preocupar com eles.
E o lúcro da negociata estará do lado de lá e do lado de cá. Não sei qual dos lados já “falou como homem” e qual já escutou.
Mas que as ma$$as devem estar a circular a alta velocidade, não tenho dúvidas.
O problema social e de saúde não existe nem para brasileiros nem para moçambicanos.
Para quem decide, a única preocupação é: Quanto vou eu ganhar com este negócio?
Alguém pode-me dizer que os tais decisores também podem ser vítimas de não haver anti-rectrovirais baratos no mercado.
Nada de mais falso.. À custa da corrupção e da roubalheira esses têm capacidade de comprar os antirectrovirais ao preço de mercado.
Por isso estão nas tintas...
A questão do SIDA é daquelas que não deixa ninguém indiferente. Perante ela toda esta questão dos custos e dos lucros assume aspectos muitíssimo mais pornográficos do que uma pornstar num filme XXX.
Será que o Presidente Lula da Silva sabe que isto está a acontecer?
Se não sabe, talvez seja altura de usarmos as novas tecnologias e para ele passar a saber.
No fundo, no fundo, é a palavra dele que está em causa.
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*Imagem do site Club of Moçambique

Em 01/04/2010, fico otimista que de fato o Presidente Lula, ainda que através dos seus auxiliares imediatos, venha  buscar entender o que se vem passando com a evolução do compromisso assumido com o povo moçambicano. Digo isto pois há uns minutos atrás recebi a mensagem abaixo:

infoap@planalto.gov.br para mim mostrar detalhes 16:58 (25 minutos atrás)

Prezado Senhor,

Em resposta a sua mensagem endereçada ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, informamos que ela foi encaminhada à Assessoria Especial - Política Externa/PR para análise e eventuais providências.

Cordialmente,

Claudio Soares Rocha
Diretoria de Documentação Histórica
Gabinete Pessoal do Presidente da República

domingo, 21 de março de 2010

Orlando Zapata Tamayo - Uma vitima da luta pela Liberdade de expressão.

Por António Maria G. Lemos

Lula metalúrgico quando lutava pelo direito de falar.

Ao contrario da política interna do governo Lula, a externa segue o caminho fácil e de puro interesse político, de um lugar de destaque no pedestal internacional. Para alcançar tal objetivo, não lhe importa o nível das alianças. Se ditadores votarem por ele nos palcos internacionais, então passam também a ser seus “amigos”, independentemente dos valores antagônicos aos seus, que eles defendam.
Se as masmorras dos seus “aliados” estiverem cheias de pessoas que nunca mataram ninguém e tudo que fizeram foi lutar pela liberdade de expressão, por essa estar algemada em seus países por interesses religiosos ou políticos. Assim mesmo, a política internacional do governo Lula, baseada num pseudo pragmatismo, esquece o que milhares de pessoas sofreram no Brasil durante os anos de ditadura.
Cuba usou muitos anos o seu papel de vítima, isolada pelo boicote internacional imposto pelos falcões imperialistas americanos, para explicar ao seu povo, o porque de se ter que viver sob estado de segurança máxima, procurando em qualquer critica expressada de forma pacífica uma forma como taxar alguém como “aliado imperialista”. Mesmo depois dos seus aliados do passado terem reconhecido erros fatais políticos, como os verdadeiros culpados da miséria econômica do seu povo, terem mudado os seus cursos políticos. Hoje quando vemos os países do Leste, ditaduras passadas, renascerem das cinzas econômicas. Onde uma Polônia tem a chefia da Comunidade Européia, e outros países vizinhos do Leste, se integrarem num mundo global, com os seus cidadãos atravessando fronteiras culturais, econômicas e de ensino. Cuba bate o pé, feito menino pequenino, que quer ganhar a qualquer preço uma razão para poder continuar exercendo o seu direito da mais velha Ditadura da América Latina. Com o governo que teme a liberdade de expressão e a internet, mantendo uma comunicação sob o poder absoluto e irrefutável dos irmãos Castro. (Até mesmo uma das filhas que é opositora não só do seu pai, como de todo o esquema político que ele representa, não pode voltar a Cuba, sem correr o risco de ser presa).
No meio de todo esse absurdo, o nosso governo foi lá mostrar a sua solidariedade, que até é legítima quando se trata de defender o fim do boicote internacional, que na verdade cada vez mais existe no papel do que na pratica. (Veja-se as empresas que lá vendem os seus produtos, e sem falar nos investimentos internacionais na área do turismo, que lhes rende muitos dólares e uma sociedade paralela, com duas moedas oficiais circulando. O peso do povo, e o peso dos gringos). No entanto foi vergonhoso ver que o Lula não teve a coragem política para mencionar os valores democráticos que o Brasil defende, não só no país, como deverá desejar para todos os povos amigos. Enquanto a comitiva brasileira se regava em festejos de solidariedade entre povos latinos, bem ao estilo populista a serviço da máquina de informação dos donos da casa. um dos presos políticos de Cuba, o senhor Orlando Zapata Tamayo, que estava em greve de fome, falecia num dos cárceres de “Cuba Libre”.
Sem armas ou uso de violência, Zapata Tamayo, lutou pelos direitos primordiais humanos e democráticos que um dia o nosso presidente também lutou, mas que infelizmente hoje passaram a ser secundários, na sua luta de ser o novo Homem no pedestal internacional.
Senhor Presidente, o cidadão cubano Orlando Zapata Tamayo, seja em termos ideológicos ou de coragem civil, não tinha nada comparável com os nossos “gangsters” que dominam as nossas favelas, e que por falta de vontade política e recursos financeiros para as policias locais, continuam amedrontando e governando o dia-a-dia de grande parte das nossa população trabalhadora. Exilada nas grandes cidades do país.
Senhor Presidente, valerá mesmo pena se pagar qualquer preço, inclusive o de fechar os olhos a injustiças praticadas pelos nossos parceiros econômicos? Negando aos povos com quem nos relacionamos - seja por motivos políticos ou religiosos - que eles tenham também o direito de viver e exercer os princípios e Direitos Humanos mais elementares, que nós com muito suor e lágrimas conseguimos conquistar no Brasil?
Andamos sempre defendendo valores democráticos que na verdade, em termos ideológicos, vemos os partidos que acreditávamos também os defender, dando-lhes pontapés.
O cidadão cubano Zapata Tamayo e muitos outros que estão hoje presos ou exilados mundo a fora, são os Chicos Buarque, Carlos Prestes, etc, exilados e prisioneiros dos tempos obscuros do Brasil de ontem.
Homens e mulheres que lutam pelo direito de debater as diferenças de opinião, e lhes ser permitido redigir textos como este, sem que o preço a pagar seja o veredicto de um tribunal a serviço da ditadura, que os julga à masmorra e tortura do silêncio do pensamento.
Não se esqueça senhor Presidente. Nação sem memória ou valores, é nação vendida a futuro incerto. Por tanto, levando em conta o seu próprio passado e engajamento político, não coma no prato que já cuspiu. Trate os Zapata Tamayo do mundo afora, com o devido respeito que eles merecem. Se comporte à altura do solidário povo brasileiro que o elegeu, pela luta, coragem e verticalidade de princípios, que marcavam o seu caráter de então.
Povo que respeita e deseja para todos os povos do mundo; Liberdade de Expressão, para poder denunciar o abuso de poder impetrado em nosso nome, para um suposto bem da nossa Nação.

António Maria G. Lemos

quarta-feira, 17 de março de 2010

Irena Sendler

"Não se plantam sementes de comida. Plantam-se sementes de bondade e amor. Tratem de fazer um círculo de bondade e estas sementes crescerão mais e mais... muito mais".


(Irena Sendler)


Corre nestes dias um e.mail, retardatário, que nos relembra o falecimento de uma heroína que falaeceu a 12 de Maio de 2008. Algumas pessoas estão assimilando como se ela tivesse acabado de falecer. Não vejo este equivoco como importante. Importante de fato é, por qualquer meio lícito, lembrarmo-nos desta Mulher e dos ensinamentos que nos deixou.

Irena Sendler faleceu reconhecidamente como uma das grandes heroínas quando do Holocausto dos judeus na II Guerra Mundial.

A sua coragem fez com que mais de 2.500 crianças judias tenham sido salvas, quando como alemã tinha informações privilegiadas sobre os planos nazistas na invasão à Polônia.

Como sinal de solidariedade e também como forma de não chamar atenção sobre si, tinha a Estrela de David tatuada no braço e andava pelas ruas do Gueto de Varsóvia convencendo as famílias a deixarem-lhe levar os seus filhos daquele lugar para que os mesmos tivessem esperanças de sobrevivência. Quem acreditou nela salvou os seus filhos. Quem não conseguiu acreditar nela, o que é bastante compreensível, acabou por acompanharem a retirada dos seus filhos pelos nazistas quando estes foram encaminhados por trens a caminho dos “campos da morte”.

Usou de todos os artifícios possíveis para dali retirar estas crianças, desde informar aos nazistas que tirava crianças do bairro com tifo, até treinar o seu cachorro a ladrar quando avistava um nazista. Este cão andava sempre na caçamba da sua camionete, onde ali transportava crianças dentro de sacos e cestos como se fossem mercadorias (batatas e outros). Ao ladrar os nazistas acabavam por não se esforçarem a revistar o seu carro e por outro lado o barulho do latido abafava possíveis sons originados pelas crianças.

Esta Mulher não só salvava as crianças como olhava a possibilidade destas crianças virem a encontrar, tempos depois, algum familiar; anotava os nomes verdadeiros destas e as sua novas identidades e quando do fim da guerra entregou duas garrafas de vidro onde constavam estas listas de nomes, que haviam ficado enterradas no jardim de uma vizinha, ao Dr. Adolfo Berman que foi o primeiro presidente do Comitê de Salvamento dos Sobreviventes Judeus.

Chegou a se presa pela GESTAPO, cruelmente torturada e condenada à morte. Não foi executada porque um soldado alemão, quando a levava para a execução, desviou o caminho dizendo que a direcionava para um “interrogatório especial” e libertou-a. Passou a estar na relação dos poloneses executados e viveu até ao fim da guerra na clandestinidade mas sempre atuando a favor da proteçção dos judeus.

Se foi um dia reconhecida como uma heroína, mostra também que prêmios como o Nobel da Paz são extremamente injustos, fazendo com que ele(s) se tornem sem valor algum. Esta Mulher chegou a ser indicada para o Nobel da Paz em 2007, mas um tema na moda, que não deixa de ser importante se assim for tratado, direcionou o ex vice-preesidente americano Al Gore com a defesa do meio ambiente. Um premio para quem nem mesmo consegue convencer o seu país a ter uma posição mais responsável por algo que também aflige o mundo e que além de conceitos bem apresentados em um documentário, não fez absolutamente nada.

Melhor prémio será não esquecermos da Sra. Irena Sendler e dos conceitos de solidariedade e humanismo desta que deve ser referencia para todos nós.