quinta-feira, 21 de outubro de 2010

gaudium et spes, o espaço do Dr. Carlos Adrião Rodrigues

Eu sou reconhecidamente, por mim e por pessoas chegadas a mim, um tanto distraído. Tão distraído que nunca tinha me apercebido que o renomado advogado luso-moçambicano Dr. Carlos Adrião Rodrigues tem o seu espaço na blogosfera, ainda que não escrevendo com a freqüência que agora eu gostaria que tivesse.

Abaixo coloco uns retalhos de um dos post’s do seu blogue “gaudium et spes”. Selecionei meia dúzia de parágrafos para dar uma idéia da importância de um dos seus textos, intitulado "História do Zeca Russo ou o assassinato de chefe de policia”. A história começa no ambiente do Moçambique colônia e acaba no Moçambique independente.

Não indico que leiam os parágrafos salteados que aqui coloco, mas sim que cliquem com o mouse sobre qualquer parte destes parágrafos para migrarem imediatamente para a integra do texto no blogue do autor, até porque lá poderão ler ouros textos tão interessantes quanto este.

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O Zeca Russo foi uma figura mítica na Lourenço Marques colonial. Filho ou sobrinho da moça das docas, figura que povoava os primeiros poemas do poeta Virgílio de Lemos, era jovem, bem parecido, simpático no trato mas cedo se começou a meter pelos trilhos do pequeno crime. Um furto aqui, uma burla acolá, adquiriu também a fama de ser uma espécie de Zé do Telhado que roubava aos ricos para dar a pobres. Não seria bem assim, mas a verdade é que ajudava a mãe, pessoa pobre que o adorava e não fazia a menor ideia da origem do dinheiro que ele lhe dava. Ao mesmo tempo Zeca ajudava familiares e amigos também pobres, com pequenas importâncias, cuja posse atribuía sempre ao trabalho ou a pequenos negócios de ocasião. Segundo me contou a sua advogada, Ruth Garcez, nesta fase ele sempre teve a preocupação de disfarçar e justificar a origem dos fundos que doava a familiares e amigos pobres, de modo que estes tinham por ele grande estima.

Nessa altura, o nosso grupo (eu, o Eugénio Lisboa, o Rui Knopfli, o Fernando Magalhães, o Zé Craveirinha e outros) colaborávamos ( à borla ), na TRIBUNA cuja redacção era chefiada pelo Gouveia Lemos, que, esse, não trabalhava à borla mas se via à nora para receber o vencimento. A Tribuna era o jornal da oposição, tanto quanto a censura deixava, e funcionava democraticamente. Assim, perante tal boato, o Gouveia Lemos ouviu-me primeiro, como jurista do grupo.Eu expliquei-lhe que essa coisa de entrega administrativa de presos policia a policia de países diferentes não existia no nosso direito e que a sua prática podia transformar a detenção pela policia moçambicana em sequestro, o que seria grave A única medida admissível era a extradição,naquele caso inaplicável, porquanto o Tembe era português e o crime porque seria julgado na África do Sul era punido com pena de morte,contrátia à ordem jurídica portuguesa o que impedia a extradição..Portanto o boato merecia uma notícia desenvolvida ou mesmo um artigo de fundo.


O 25 de Abril, em Lourenço Marques, foi um pouco estranho.Logo de manhã, pelas 8 horas, uma parente minha que trabalhava na TAP, me telefonou avisando que algo tinha acontecido em Portugal. A partir daí, comecei a dar trabalhos forçados ao meu “ Nordmend world wide”, que apanhava tudo quanto era estação a transmitir em onda curta, enquanto deixava outro rádio ligado para a rádio local que se limitava a repetir o noticiário da noite anterior. Mas a EN,de Lisboa não deixava dúvidas, pois transmitia o comunicado do MFA, dando conta, sem pormenores, da revolução. A BBC e a France International davam mais pormenores, todavia escassos. De modo que quando às 10 horas, um militar ligado ao serviço de informações do exército me telefonou a perguntar se eu sabia se o golpe era do Kaulza ou do Spínola, foi com muito gozo que lhe respondi que era do MFA.


sábado, 9 de outubro de 2010

Carta para a família, comentando as eleições.

Em e.mail para algumas pessoas da minha família, onde adicionei alguns amigos especiais, comentei sobre as eleições o que reproduzo abaixo.

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Querida Mana, família, e amigos especiais,


Vou então dar a minha visão sobre as fotos do tal e.mail, que anda rodando os e.mails brasileiros, e “entretantos”.
A Dilma pertenceu de fato a um grupo armado que lutou contra a ditadura militar brasileira. A correlação das fotos de vítimas à imagem da Dilma não passa disso. Não são elas vitimas de balas disparadas pela Dilma. O que se sabe, inclusive, é que ainda que a Dilma tenha pertencido a um grupo guerrilheiro na década de 70, nunca teria disparado uma arma. Usarem essas imagens para abater a candidata do PT chega a ser piada, ainda que de mau gosto.
Dizer que o Serra é um ditador é outra piada de mau gosto. O Serra sofreu tanto com a ditadura militar como tantos outros democráticos ou até mais do que alguns ditos mais à "esquerda". Teve que se exilar porque senão entraria dentro e naquela época ninguém sabia se depois saía.
Tu sabes como sempre fui, e sou, PT. Mas passei a ser muito mais o PT do Lula. O PT que teve a sabedoria de levar em frente um projeto econômico que nunca foi do PT há época de quando o mesmo tentou as primeiras vezes se eleger presidente, e sim que começou no governo Itamar Franco, goste eu ou não, quando tinha o Fernando Henrique como ministro. Ali se começou a costurar a grande virada da economia brasileira e depois, como presidente, o Fernando Henrique solidificou os trilhos a serem percorridos. Sou PT do Lula que criou, aí sim bem diferente do governo do PSDB, projetos como o Bolsa Família. Não me venham com a história que o que se tem é que criar empregos e não dar esmolas. Emprego não se gera, para todo mundo, de um dia para o outro. E em quanto não se tem emprego para uma família há que subsidiar, e não dar esmolas, para que haja um mínimo de condições de vida para os menos privilegiados e não olhá-los como se fossem animais na busca da sobrevivência. Sou PT do Lula que garante a liberdade de imprensa, ainda que ultrapasse alguns limites quando critica a imprensa de forma generalizada.
A minha grande frustraçãocomeça quando aparecem os escândalos de corrupção dentro do PT (não do Lula), e perceber um Lula acuado devido aos apoios políticos de que depende, e não se posicionar claramente contra estes atos. Ajuda a trabalhar para que tudo fique debaixo do tapete. Faz isso também por uma outra característica que começa a ficar evidente: a vaidade! Não manchem a imagem dos companheiros porque estarão manchando a minha. O Lula começa a mostrar que está ficando extremamente vaidoso, o que é diferente de orgulhoso. O vaidoso fica surdo, não ouve críticas. O vaidoso é perigoso porque quando fica excessivo, cria artimanhas para manter a sua imagem intacta e outras tantas para que seja ainda mais adorado.
Com esta minha preocupação com a vaidade do Lula, que se pode transformar perigosa, e ao tentar interpretar a candidata fabricada pelo PT a minha frustração sobre um projeto político de longo prazo e eficaz para este nosso Brasil dá uma soluçada.
É que de fato não gosto da Dilma. Alguém que faz cirurgias plásticas que não me parecem estar vinculadas à vaidade legitima de uma mulher. Foram cirurgias claramente direcionadas para ter uma imagem física (facial) que seja mais simpática a uma parte de ingênuos eleitores.
Tenho a convicção que como uma figura criada por um grupo que perdeu para os escândalos os seus principais candidatos ao cargo máximo dos brasileiros, terá a Dilma grandes dependências do PT que não gosto. Do PT do MST com perfil de guerrilha que a Dilma diz não aceitar hoje. Do PT que tem sim relações com as FARC que tanta gente mata na Colômbia e que luta, esse PT, para que saia este grupo da lista de grupos terroristas. É uma pena ver um movimento tão legitimo como o MST ser tão mal pilotado politicamente.
Tenho receio que esses pilotos tenham mais poder de manipulação com a Dilma do que têm até então do Lula com a sua própria personalidade. Tenho muito receio que esses pilotos tenham muito mais poder de persuasão junto à Dilma do que no futuro o Lula tenha sobre a mesma.
Por isso o meu voto "não é" da Dilma.
Ainda que com a sensação de um soluço, confio mais na sequência de um bom projeto político para o Brasil dando o meu voto para o Serra.

Beijos,

Zé Paulo



PV seja sempre PV

Por António Maria G. Lemos

Existe um texto correndo na internet que parece que foi escrito por um Professor de filosofia da UFES, autor dos livros Iara e a Arca da Filosofia, que não li. Digo “parece”, porque na NET-manipulada de hoje, há tanta coisa correndo em nome “de” que se ele ou ela soubessem, voltariam a morrer. Por isso deixemos o professor em paz, e vamos ao texto em si.

Confesso que achei o texto meio chorão e panfletário demais, principalmente se veio de um professor.

A minha opinião sobre que penso que a Marina vai fazer, ela e o partido PV, é o de optarem pela neutralidade e deixar que os eleitores que os apoiaram no primeiro turno escolham por si próprios. Os religiosos que a apoiaram, - espero que a turma do Bispo Macedo & Cia não esteja por trás dela, que é dos poucos "poréns" que eu teria a apresentar à candidatura dela - não vão com o "pragmatismo religioso do PT", que convida a Líbia e o Iran, e faz pressão para a seleção canarinha ir fazer política em Teerã. E por isso, creio que eles não vão querer apoiar o PT.

Por outro lado o professor coloca no seu texto, a sigla PSDB/DEM, como se isso representasse que o PSDB iria fazer concessões ao DEM que passassem da linha do partido do PSDB. Como se havendo a sigla PT/PV realmente significasse que o PT agora iria fazer o que realmente não fez nos últimos dois mandatos no poder. Balancear os interesses e prioridades econômicas com as da natureza.

Das poucas coisas que poderia repreender no governo PT, seria a sua política externa de um cinismo atroz, compactuando com ditaduras, quando eles mesmo sabem o que é sofrer debaixo de uma. O Amorim para se defender dessa acusação diz que é ingenuidade não ir por esse caminho, e o governo que não faz que jogue a primeira pedra. Um misto de pregão cristão com anarquia de valores, que nos leva a pensar que se é assim, porque não produzirmos cocaína também, e concorrermos no mercado da droga com o Afeganistão? Afinal sempre haverá quem não possa jogar uma pedra e prefira a Coca do que a Heróica.

Fora a alergia que tenho à política externa do PT baseada no "atire a primeira pedra que nós devolvemos pedregulho", foi no governo PT, e não no PSDB que o Brasil aceitou que os produtos agrícolas geneticamente modificados entrassem na agricultura do pão nosso de cada dia. Também comprovado por organizações não governamentais de respeito internacional, está provado que com o governo PT, a desmatação não só da floresta Amazônica, deu um pulo bem drástico. Claro que os mais populistas do PT dirão que isso são campanhas do USA. Vende-se bem esse argumento junto às populações menos informadas. Vide Chaves e Morales.

Comprovando assim que o PT, sem DEM, em termos de PV, desmatou mais do que o PSDB do governo do Fernando Henrique. Porque é que agora seria diferente com o PSDB/PV?

Conclusão, Marina não se deixe manipular nem por um nem por outro. Você sempre mostrou saber reconhecer os prós e contras dos governos Lula e Fernando Henrique Cardoso. Quem é informado e não burlado também sabe os passos que ambos deixaram calcados na História do Brasil . Por isso escolha com honestidade e conseqüência na interpretação dos valores e filosofia do seu partido, se quer ou não fazer aliança com PT, PMDB ou com ...o PQP. Mantenha-se fiel a si e ao partido e escolha o que achar melhor para o Brasil, que de política de auto-proclamação pessoal já existem excessivos exemplos na política, que o resto será História, que você e o PV estarão escrevendo.

Adenda:

PS. Depois de 3 mandatos de um partido no poder, mostra a História mundial, que a tendência é começar a enferrujar e a corromper. Por isso se der PT mais uma vez, nas próximas eleições serei a favor da mudança, como o fui, há 3 mandatos atrás.