quarta-feira, 28 de julho de 2010

Gira discos


Fazem uns meses, havia comprado um Gradient Garrard para voltar a ouvir uns poucos LP's de vinil. Penso que perto de uns 70, não mais do que 80, de vários estilos. De Led Zeppelin a Louis Armstrong, de Caetano Veloso a Carlos do Carmo, e destaco uma coletânea muito especial do Zeca Afonso. Especial por ser do Zeca e por ter-me sido dada por um querido e saudoso amigo, o Quim Mancelos.
Pois não tive sorte com o tão desejado Garrard que com uma bela aparência, e teoricamente comprado de um vendedor de usados sério, não se deu a dar música para os meus ouvidos.
Primeiro tive uma tremenda dificuldade de comprar a agulha. Foi mesmo algo como procurar uma agulha no palheiro.
Na verdade quem a encontrou foi o meu irmão, a quem havia comentado a dificuldade que estava tendo e pedi-lhe que nas suas andanças, ao ver lojas direcionadas para equipamentos de som e discos, em especial as que trabalham com LP’s, fosse perguntando. O gajo é mesmo bom de palheiros e encontrou-me a peça rara. Apareceu-me, logo uns dois dias depois que havia-lhe feito o pedido, após o almoço lá no escritório e a me deu de presente. Já não consegui me concentrar durante a tarde toda. Já não me lembro bem que desculpa dei lá à turma, mas lembro-me bem que saí um pouco mais cedo que o normal.
Desde esse dia, que vivi uma grande alegria, vinha vivendo uma grande frustração...que cáca! Não deu música o Garrard e mesmo com todas as promessas do vendedor vir aqui a casa para o me arranjar, lá se passam uns bons mesitos.Tentei fazer de tudo por ele. Limpei os contatos o quanto basta, várias vezes, coloquei e recoloquei a agulha dezenas de vezes, olhava e olhava de novo todos os fios a ver se estava tudo ligado, media voltagem, rodava o prato com um LP, sempre na expectativa de um milagre. Som, só mesmo aquele que vem baixinho e metálico direto da agulha. Ainda que quase tivesse um orgasmo ao ouvir aquele ruído, nada de música para valer!...
Hoje, no meu horário de almoço, ao ir ao Mercado das Pulgas, pois haviam me dito que lá talvez arranja-se umas fitas para gravador de rolo – essa do gravador Teac vale uma outra história, mas essa só de alegrias – não obtive sucesso com o objetivo da visita.
Depois de ter aproveitado para explorar muita velharia boa, desde equipamentos de som antiqüíssimos, projetores de Super-8, de slides, mesas, cadeiras, aquecedores de água a gás do meu tempo de meninice, e tantas outras coisas boas de se ver e de sonhar em tê-las, ao despedir-me da senhora que me havia atendido e me deixado à vontade para fazer o tour pelo enorme galpão da Casa das Pulgas, apercebi-me que em uma prateleira descansava um “gira-discos” Kenwood P-58. Pareceu-me que havia também olhado para mim e cheguei mesmo a vê-lo a piscar-me um olho.
Fui lá olhá-lo com atenção. Um tanto empoeirado mas com boa aparência. E me chamou atenção que o cristal da agulha me parecia em muito bom estado. Será que teve pouco uso? Perguntei à senhora se o mesmo estava funcionando, e a resposta foi um tanto evasiva: “Penso que não”. Aquele penso que não, sem um tom definitivamente negativo deixou-me ainda mais enamorado. Perguntei agora quanto ele valia, e me informou que por R$ 70,00 podia o levar. Algo em torno de 40 dólares. Respondi-lhe que se me fizesse por R$ 50,00 (U$ 28,00) o levava. Ela aceitou a proposta... foi o bastante para o crime se consumar.
Paguei, meti-me no meu velho Fiat Spazio, ano 1984, e me mandei para o escritório. Tarde de reuniões...acabou passando rápido. Em um intervalo ainda fui visitá-lo à minha sala e liguei-o à tomada. Funcionou perfeitamente. Rodava o prato, e os comandos automáticos (!) a funcionarem perfeitamente...puts, agora esperar chegar a hora de me mandar para casa.
Cheguei em casa, fui dar a minha caminhada a pé com a minha mulher. Não tive coragem de inventar uma unha encravada para cancelarmos a caminhada de hoje...
No retorno, depois de fazermos o nosso lanche / jantar, fui montar o animal.
Perfeito!!! Som limpo, rotações perfeitas, tanto nas 33 como nas 45 rotações.
O primeiro LP a rodar foi Machine Head do Deep Purple, que se vê de relance na foto que acompanha este post, comprado em 1977, em Campina Grande, Paraíba, quando eu tinha os meus 16 anos, de idade. Quando comecei a escrever isto, com algumas pausas para apreciar mais atentamente a música, rodava um dos grandes de todos os tempos, Louis Amstrong, Hello Dolly, uma herança do meu Pai que foi um dos poucos que veio conosco de Moçambique em 1975. Ouvi isto muito na Beira, e depois em Vila Pery, entre os meus 8 anos de idade aos 14.
Agora, já quase vos dando boa noite, para que possam ir descansar, ouço o LP A Trick of the Tail, do Genessis.. Esse comprado no Rio de Janeiro em 1976, antes de ter-me mudado para o nordeste brasileiro. Tempos de Aterro do Flamengo, grandes tempos cariocas!!!
Mas agora aqui do sul do Brasil, Curitiba, vos dou boa noite. Descansem bem...eu vou ficar mais um pouco... vou colocar a vaquinha do Pink Floid a pastar (Atom heart mother).
Fiquem bem!

Ah! Para os curiosos, a fita que está no gravador da foto é a "Big Band Hits of the 30's and 40's.

4 comentários:

  1. Disco que toca na máquina do tempo do vinil é, mesmo, outra coisa! E como enternece o barulho antigo!
    beijo contigo, ZP,
    IO

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  2. Sei lá se a gente não bate bem da tola, mas que é um som acolhedor, é!
    Beijo,
    ZP

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  3. E se é!
    Eu que também tenho o meu "gira-discos" Hitachi 50S acoplado a um amplificador Denon, este ligado a quatro caixas de som - duas pequenas e duas de 1 metro de altura - curto sempre uma quadrifonia bem morna, que lota todos os cantos da casa.

    Pena que nunca pude ouvir estalando como gostaria, mas ouço todos os ruídos.
    Aliás a esse amplificador e caixas tenho também a minha velha TV ligada. Um dia destes ao ver o video "Apocaplise now", percebi ruídos como no cinema. Enquanto os soldados todos fumados e bem para lá de Bagdá ouviam a Janis Joplin, eu já ouvia os o ronco dos helicópetros que estavam por lhes passar em cima, antes de aparecerem na tela. Tive que voltar para trás a cena, para checar se realmente estava ouvindo demais. E não é que não estava mesmo? Bem dita seja a quadrifonia do Denon!
    Som morno e cheio, estão os Hipots das vida por criar. Mas tamb¢m chegarão lá.

    Viva a música!
    Tó Maria

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  4. Xarra!...
    Mas até nisso temos semelhanças? Não sei se percebeste que abaixo do gravador de rolo tenho também um Denon. Tenho é 5 caixas ligadas a ele, e a qualidade é de fato muito boa.
    E tudo que é equipamento ligado no bicho...TV, DVD, CD, Game (WI), e amanhã o computador para começar a fazer umas edições supimpas.
    E viva a música! Do Brasil à Suiça, de Moçambique a Portugal

    ZP

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