segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Visita a Moçambique - 2a. Parte

A retirada das bagagens

7 de Maio de 2012 às 7:33


O avião encosta junto ao finger, mas depois de uma espera de algo em torno de 5 minutos desistem de fazer aquilo funcionar e colocam umas escadas para descermos. Teriam eles ouvido as minhas preces? Eu quero é pisar o chão moçambicano, pensava eu. Nada de tapetes ou passarelas artificiais.

Descemos do avião, com a mochila com as máquinas fotográficas e notebook nas costas, pasta em uma das mãos, me fizeram refletir e decidir por ainda não ser aquele momento certo para me abaixar e tocar com as palmas da mão aquele chão de concreto do pátio das aeronaves. Aproveitava o sentido do olfato e relembrava os cheiros de Lourenço Marques. Incrível a capacidade da memória dos 5 sentidos, inclusive a dos cheiros. Cheiros africanos da agora Maputo.
Seguimos para a sala de desembarque onde temos pequenos balcões com formulários em branco para preenchermos. A burocracia de todos os países. Formulário para sair, formulário para entrar. Com o documento devidamente preenchido nos dirigimos à funcionária da alfandega que irá vistoriar a nossa documentação. Pensei cá para mim: “Que esta miúda não seja partidária do senso de humor sádico da menina de Guarulhos e não me faça nenhuma partida!” Nada! Pegou o formulário, olhou o visto no passaporte e “Seja bem vindo!”. Soube-me mesmo bem ouvir aquilo.
Vamos para a esteira esperar a nossas malas. Sempre aparece aquele lado negativo da possibilidade do extravio da bagagem, mas logo apontam na entrada da esteira. Enquanto tiro a mala da esteira aparece um rapaz de cara simpática a me dar o bom dia e diz: É uma mala só? Ao qual respondo que sim, que a minha era uma só, mas havia também a do meu colega. ”Podes deixar. Diz-me só qual é que eu pego. Levo-as lá fora para vocês. Trabalho aqui e assim eles não vão abrir as malas para as ver”. Certo, mas e quanto é que me vais cobrar de frete para nos levar essas malas lá fora, perguntei-lhe. “Ê, pá! Não te preocupes. Isso é o meu serviço”. Bem, vamos lá. Não me vai quebrar assim tanto. Lá fora tenho a minha querida prima Teresinha e a filha Maria que se necessário ajudam-me a por o rapaz no trilho. Colocamos as malas e bagagens de mão na esteira do raio “X” e ao saírem do outro lado, com o rapaz simpático a recebê-las, o policial da alfandega já vai pedindo para colocar a minha sobre a bancada que a queria vistoriar. O rapaz já não muito sorridente vira-se para mim e diz: “Não te preocupes, só vai ver e mais nada!” Sim, sem problema nenhum. Deixei-o ver. Até porque não estava ali em posição de deixar ou não ver, mas não havia nada, a principio, que pudesse comprometer a minha idoneidade. “Abra o cadeado...! Puts, onde coloquei a chave dessa merda? Mochila no chão, abro-a e depois de uma procura por dentro das bolsinhas acabo por a encontrar em uma delas. Abro o cadeado, os zíperes, e ficam expostas as minhas roupas. Camisas, meias e cuecas a serem vistoriadas e no meio aparece logo um do cd’s de música brasileira que trouxe para aqui presentear amigos. “Traz aqui coisas?” Não. Uns quatro ou cinco Cd’s, digo eu em tom de voz aparentemente baixa. “Cd’s? Quantos?” Uns 5 ou 6, talvez, respondo eu em um tom um pouquinho menos baixo. “Pergunto se uns 50, 100?”, questiona ele de uma certa forma ríspida, tipo moçambicano mesmo. Não, não, uns seis ou sete, respondi eu mais à vontade. Mandou-me fechar a mala e liberou-me já olhando para o meu colega a perguntar-lhe: “ E na sua, traz alguma coisa?” Não, só roupa, no estilo seco mas sorridente do Marcos. “Tá bem, não precisa abrir!.” Porra! Será que este gajo percebeu que eu era um ex-colonialista e quis me mostrar que as coisas não são como eu possa imaginar? E o rapaz sorridente, que dizia que me prestava um serviço exatamente porque assim não me abririam as malas?
Saímos para o saguão, onde vejo logo a Teresinha a abrir os braços para consumar em um abraço mútuo. Um prima muito querida que não a via há mais de 37 anos. Ela, que vem já há uns meses articulando alguns dos contatos que vamos aqui ter com o objetivo de buscarmos dados para avaliação de possíveis investimentos por parte da empresa para quem trabalho. Em seguida se aproxima a sua filha Maria. Tão bonita e de simples trato como o nome Maria. Uma miúda super simpática.
Vamos até ao carro, depois de já sermos questionados pelo rapaz simpático se o carro estaria longe, mas depois que lhe foi identificado onde estava se prontificou em deixar as malas junto ao mesmo. Ao colocarmos as malas no carro veio finalmente a cobrança do frete. ”O senhor me dá 50 reais porque os homens lá dentro pediram-me um almoço.“ Cinquenta reais? Perguntei-lhe eu. Foi o start para a Teresinha entrar em ação:
- Como é? Pediram-lhe almoço? Mas quem lhe pediu almoço?
- O homem lá dentro, para não lhes abrir a mala. Respondeu o simpático.
- Como não abrir a mala. Mas eles abriram a minha mala! Intercedi eu.
- Não, nada de almoço. Nós somos daqui e o meu primo esta a chegar para nos visitar não vai pagar nada.
- Espera, mãe! Não adianta ficares nervosa. Deixa que eu vejo isso. Diz a Maria e me transmite que vai ter calma para resolver isso de forma que fiquemos todos felizes e contentes. E vira-se então para se posicionar junto ao rapaz simpático.
- Ouça lá! Nós somos de cá e não entramos nessas. Não tem almoço nenhum. Tome lá este ajuda (talvez uns 5 meticais). Se quer, quer! Se não quer, não vai ter mais!
- Mas com isto não compro nada! Tenho que levar o almoço para o homem. Responde o rapaz.
- Qual almoço! Disse de forma definitiva a Maria, a doce sobrinha prima que aqui tenho, mas que mostrou ser tão objetiva quanto a mãe Teresinha e a sua avó Izabel.
A Teresa acaba por meter mais 20 meticais, salvo erro, na mão do rapaz e diz-lhe. Tome lá isso. Não devia, mas...
Entramos no carro e a Maria pôs-se a manobrar enquanto o rapaz simpático ficou com uma cara nada de bons amigos a resmungar consigo próprio.


Um comentário:

  1. Eheheheheh foi assim que ouvi contar que acontecia ! Cada coisa que fazem cobram alto ...
    Se fossem só os dois sem ninguém de lá à vossa espera se calhar teria tido de alinhar com mais uns cobres, não ?

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