domingo, 5 de fevereiro de 2012

Refletindo nas influências do meu roteiro no Acordo Ortográfico


Ontem um amigo, português com parte da sua história em Moçambique, sugeriu-me que se eu em vez de ter vindo de Moçambique para o Brasil tivesse como ele ido para Portugal, como ele também seria eu contra o Acordo Ortográfico.
Isso me fez parar para refletir e vou aproveitar estar aqui a escrever para tentar organizar os vários flashes que estalam-me dentro da  cabeça.
Os ares influenciam o organismo e as mentes, é um facto...
Mas será que o meu amigo não vê em Portugal quem apoie o Acordo Ortográfico?  Que os que não concordam estes últimos tempos vêm fazendo bem mais barulho, é um facto. Mas será isso realmente um sinal de maioria absoluta? Sei que não. Sei que há sim muito português apoiando o Acordo. Talvez sejam esses o que o meu amigo classifica algo como sendo todos uns analfabrutos, cheios de modismos...
Eu ter vindo de Moçambique direto para o Brasil, sem nunca ter passado por Portugal, amando portugueses e moçambicanos, detestando reacionários e continuísmos colonialistas ou critérios de gestão ditatoriais, independente de nacionalidades e origens, e depois passar também amar os brasileiros, terá me feito uma pessoa mais universalista do que nacionalista? Até acho que sim, mas tenho amigos e conhecidos que tiveram trajetória igual ou muito similar à minha, estando ainda hoje no Brasil e são, não todos, contra o Acordo. Ou seja, mesmo com uma visão menos nacionalistas do que a média têm estes amigos também um posicionamento contra o Acordo.
Vejo, aqui no Brasil, brasileiros dos dois lados, os a favor e os contras... e os favor não têm nada de parecido com o meu roteiro originado dentro de fronteiras moçambicanas.
E, como em Portugal tenho visto, também se tem por aqui subgrupos. Os do contra com argumentos razoáveis e outros com argumentos bisonhos. Nos a favor, também temos estes sub-grupos, com classificações similares aos do contra. Com quem alinho são aqueles que são a favor exatamente por admirarem  a língua de Camões e não terem nenhum trauma de ser Portugal que aqui tenha plantado uma das línguas mais completas dos povos que habitam este planeta. Mas também têm convicção, que independente de número de habitantes brasileiros falando português, têm sim hoje uma certa “propriedade” sobre o português que anda pelo mundo, inclusive no falado em Portugal.
Argumentam os do contra, daqui e de lá, com algumas questões que não lembram o diabo - com letra minúscula para ele não se achar o gás da Coca-Cola – que vou tentar também refletir em algumas delas:
“C” mudo – começam já por dizer que nem sempre o “c” é mudo. Mas não perceberam que nas regras do Acordo já trata disso a favor da preocupação que têm com o “C” que não é mudo. Ou seja, para os casos que o “C” ou o “P” não é mudo, deve-se usar estas consoantes. Mas também se mostram preocupados como identificar certas palavras que têm significados diferentes. Perguntam como vamos tratar estes casos. Nem levam em questão já termos muitos desses casos na nossa Língua Portuguesa onde usamos a mesma ortografia para vocábulos com significados diferentes. E depois fico cá a pensar com os meus botões. Se o “C” é mudo, ao usar esta palavra numa conversa verbal devemos então explicar, no meio da conversa, ao nosso ouvinte que a palavra tem ou não o “C” já que não pronunciamos a consoante, pois é muda? O nosso ouvinte poderá não nos entender?
O dinheiro, quanto se vai ganhar dinheiro com este acordo – Falam nisto apontando o dedo contra as editores e/ou gráficas, e às possíveis comissões gordas distribuídas entre corruptos e corruptores, que na versão dos que têm este argumento terão os abocanhadores de cifrões  que reeditar uma montanha de livros. Quem diz isto não conhece dois conceitos básicos para uma boa administração de um negócio. O primeiro é o conceito básico de administração de estoques. Poucos estoques de matéria prima e insumos e menos ainda de estoques de produtos acabados. Em se tratando de livros, especialmente os de educação, passa este critério de gestão a ter um valor ainda maior em países como os nossos que todos os anos os alunos compram novos livros, pois estamos sempre a inventar uma forma nova de aprender a tabuada. Levando em conta isto, a segunda questão é tecnológica. Não se fazem mais “tipos” de impressão como antigamente. Hoje é tudo nestes computadores , via ferramentas apropriadas e que com programas especialistas que corrigem a ortografia de uma coleção completa de uma enciclopédia em alguns minutos antes de começarem uma nova impressão. E podem ter a certeza que não vão sair a recolher o que já está nas prateleiras das livrarias pois isso representa um custo altíssimo.
Os povos que usam as línguas inglesa e espanhola nunca precisaram de tratados – meia verdade, já que os povos que usam o espanhol têm sim um acordo ortográfico sendo que no próximo passado ano de 2010,  vinte e duas academias de espanhol se reuniram no México – isso, não foi em Espanha – para debaterem a necessidade de uma revisão do acordo em vigor e concluíram que o deveriam manter com apenas algumas sugestões de acentuação e outras pequenas questões. Ou seja, aparentemente o último acordo, que não me recorda agora em que ano foi, mas sei que foi no século passado, teve qualidade suficiente para se manter até então com apenas pequenas reformas.
Levanto eu uma questão: A língua portuguesa, nas sua ortografia, vem evoluindo mais em cima de critérios fonéticos ou etimológicos? – Faz séculos que vem sendo mais fonética do que etimológica a evolução da língua portuguesa. O exemplo sempre válido e conhecido pela grande maioria é a “pharmácia” dos tempos de Camões e a “farmácia” dos tempos atuais. Mas os defensores do desacordo ortográfico usam muitas vezes questões etimológicas sem questionarem a nossa farmácia dos dias de hoje.
Um dos meus conhecidos luso moçambicano que mora no Brasil, gosta muito de usar a seguinte frase para questionar o Acordo Ortográfico -: “Um bicho rasteirinho, se arrastando pelo chão, por que deixaria rastRo?”
Alerta o Joaquim sobre a diferença entre o “rasto” deixado em Portugal e o “rastRo” deixado no Brasil. É um belo exemplo, deixando as xenofobias de lado, de se questionar o Acordo. Mas na minha linha, como defensor de acordos ortográficos, é o questionar o último Acordo Ortográfico na sua qualidade de algumas regras adotadas e questões não tratadas. Sobre isto, de forma resumida, vejo que o Acordo precisa sim ser melhorado e como sugestão coloco que nas diversas formas de se pronunciar uma palavra nos vários países lusófonos que se tenha o critério etimológico como regra para desempate. Ou seja, acredito que o fonético seja ainda um grande responsável pela evolução da língua escrita, e que o etimológico seja o equilíbrio entre os vários povos usuários de Língua de Camões.
No fim concluo que continuo um defensor do Acordo Ortográfico, ainda que na expectativa que o mesmo possa ser melhorado. E melhorar não é sinônimo de desacordo. 

10 comentários:

  1. continuas a misturar água e azeite... e sem dar qq importância ao copo das misturas :-(

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  2. Preferia ouvir de ti as tuas razões, sem te limitares a não aceitares o "brasileirês" como sendo português, do que ouvir a tua colocação neste teu comentário.
    Ajuda-me lá a entender isso de estar a misturar água e azeite e não levar em conta sequer o copo que uso... mas sem te zangares!

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  3. Não por seres meu irmão, mas assino por baixo a tua opinião e escrita e ainda dizendo, tenho orgulho de ti !

    Tareca

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  4. Valeu, Mana.
    Tentei exatamente mostrar que azeite e água não se misturam, quando um amigo me disse sobre ter uma visão diferente dependendo para onde tivesse migrado,e o chamuar Carlos acha que fiz exatamente o contrário... que tentei misturar o que não é misturável!
    Bjs.

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  5. Façam como quiserem. Só não gostaria era de quando pedisse " um pacto de regime" me aparecesse no prato "um pato com laranja".O que não vai acontecer, de acordo com a sua explicação , enquanto aqui na europa se ouvir o "C" de pacto. Isto é só um exemplo. Os capitães na areia, as mulheres de meu pai e outros, não os entendi pior por os ter lido antes do acordo. E estou tão agradecida aos autores, como aos meus conterrâneos da língua de camões.

    abraço de

    a misturada

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  6. "Desmisture", porque no Brasil também se pronuncia e por isso se escreve pacto. É que neste caso o "c" não é mudo. Relaxe que nem aí nem aqui há pacto que transforme patos em galinhas.
    Dois abraços.

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  7. Joana,
    Não posso deixar de esclarecer algo. Também vejo grandes equívocos, "tecnicamente" falando, neste acordo. Mas sou um defensor do conceito do acordo.
    Mais um abraço.

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  8. Uma boa postura, ao meu ver, é esta que acabei de ver do escritor luso Francisco José Viegas, que é Secretário da Cultura.

    http://estadao.br.msn.com/ciencia/portugal-sugere-altera%c3%a7%c3%b5es-em-acordo

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  9. Concordo - esta questão do acordo não é prioritária,neste momento. Não é por falta do acordo que vamos deixar de nos entender - a nivel diplomático, empresarial ou de amizade . Já viu o que é ,neste momento de penúria nacional, obrigar os pais e as escolas a comprar livros novos, novos dicionários, gramáticas , etc? Um grande negócio , para algumas editoras, acredito.Para o povo é que nem por isso.Já basta o que basta.Saudações! - (Que palavra mais antiga, ainda existe?)

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  10. :)
    Penso que ainda existe, mas prefiro "Um abraço!"

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