terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Visita a Moçambique - 3a. Parte

Cambiar a moeda que estamos em Moçambique.


7 de Maio de 2012 às 21:54

Saímos do aeroporto com destino ao Shopping Maputo, pois queríamos trocar uns dólares; afinal esta economia funciona é em Meticais. Os números aqui são grandes e isso porque faz relativamente pouco tempo que foram cortados três zeros da moeda nacional. Faz-me lembrar do tempo dos planos econômicos brasileiros, em especial o Plano Real, onde também no Brasil houve a necessidade de se cortar zeros para se ter uma visão mais consistente do valor da moeda. O cambio com o dólar está próximo a 25 Meticais. Em relação ao Real brasileiro esta, em valores arredondados, valendo 15 Meticias.

A primeira avenida que buscamos para ir até ao Maputo Shoping foi a Av. Acordos de Lusaka, salvo erro, e a primeira coisa que me chama atenção é uma placa, tipo outdoor, que o ator, a personagem comercial de uma rede de telefonia celular, é um negro. Não que fosse isso uma novidade para mim. O mundo hoje nos proporciona acesso às informações de forma ainda mais rápida do que atravessar o Atlântico e o continente africano em oitos horas em um Air Bus 330. Já havia visto comerciais de Moçambique com este perfil. É claro que este anuncio nem mesmo me deveria chamar atenção, não pelo motivo que aqui levanto. Mas o facto é que aqui estando me chamou. Estava em um Moçambique diferente! Pode haver ainda muito a mudar, a melhorar, a se ajustar, mas Moçambique é mesmo outro e o ter um anuncio onde o agente promovedor de um produto é negro só pode nos apontar que algo de mais justo, coerente, existe na sociedade deste país de tenra idade. Vê-se a movimentação de muita gente, mais velhos e mais novos, crianças, em uma maioria de negros que nem eram filhos de e ou “mainatos” lá de casa ou do meu vizinho. Era uma população ativa, com movimento, com altivez de um povo que antes me tratariam por menino, e com os cabelos brancos que tenho agora talvez por patrão sem mesmo que lhes pagasse uns cifrões por um serviço prestado. Até porque não havia a necessidade de se ter um funcionário para ser tratado como patrão no Moçambique do antigamente. Mas imagino que até o fim da temporada por cá ainda veja outdoors com atores de outros tons de pele. Digo isso por questões conceituais, de valores necessários em qualquer sociedade, para não ficar com a impressão de uma politica de exceção ao inverso em relação aos tempos da outra senhora, como mesmo por questões mesmo econômicas. Ou seja, que a população consumidora não seja identificada restritivamente pelas cores da pele porque o resultado das vendas podem não ser as que se esperam ou as que se poderiam alcançar.

Seguimos adiante e logo me deparo com uma praça, tipo retunda (balão ou rotatória para os brasileiros), onde está um imponente monumento aos heróis moçambicanos. No extremo de um alto mastro balança uma bela Bandeira de Moçambique que para ela direciono o meu olhar e disfarçadamente, para que não me gozassem os que me acompanhavam no carro, principalmente o colega brasileiro que possivelmente não entenderia o gesto e o valor que o mesmo me tinha naquele momento, ainda que ali havia uma forma de brincar comigo mesmo,... sim, levei a mão próximo à testa como a ela batesse continência. Não a ela, mas a tudo que ela representa e que ainda haverá de representar.

Vou chegando a um lugar familiar, um conjunto de prédios com uma distribuição que me está gravada na memória até então.
Prédios da Coop
Era ali que a minha prima Kikas, e os irmãos moravam num décimo andar do “PH 4” junto aos tios Perdigões. Aquela prima... acho que vocês podem me entender. Um dia, já no Brasil, ela deixou de ser a minha prima Kikas para ser a minha mulher Cristina, mãe da carioca Sofia, que foi concebida em Recife, e do curitibano Filipe, os meus filhos. Pois é Sofia e Filipe, estou aqui onde de alguma forma começou a ser formatada a vossa vinda ao mundo. Ali, naquele décimo andar, muitas vezes eu e a vossa mãe brincamos de marido e mulher, eu e ela formando um casal e os vossos Tio Tó Maria e Tia Jana formavam outro. Trocar? Nã, nã, nada disso! Já naquele tempo não tinha cá troca troca!!! O nosso filho era um boneco de pano, que era um macaco que ficava ensopado de tantas injeções que lhe dávamos com uma seringa cheia de água. Ainda lá vou amanhã para ver aquilo com calma e fotografar. Vou lá ver se encontro a Xandinha Guimarães a brincar na caixa de areia que ficava no parquinho entre os PH2 e 3. Já deu para perceber que os prédios iriam agradecer uma pintura. A movimentação de pessoas na região é imensa. A avenida que passa por trás dos prédios, de algumas más memórias em um setembro trágico, tem vida, muita gente, é a mesma COOP, mas 37 anos depois, com mais agitação mas com má manutenção predial, pelo menos no que percebi no visual externo.

São Marchilde, Polana, marginal, aquela do passeio dos tristes das tardes de domingos, e lá chegamos ao imponente Maputo Shopping.
A caminho da Marginal... 
Não poderíamos demorar, pois a Maria que nos ciceroneava e pilotava o veículo que carregava as malas e a nós, tinha ainda compromisso. Em quanto “parqueava” já nos foi deixando à porta e fomos os três, eu, Marcos e a Teresinha, andando para a casa de câmbio. Trocamos a moeda internacional, o tal dólar, por meticais da economia local. Depois fomos a uma loja de uma operadora de celulares onde comprei um chip para poder me comunicar aqui com um custo mais adequado do que estar a usar o do Brasil. O Marcos também contratou um serviço para poder ter acesso a dados pelo aparelho do celular, o que lhe é fundamental para acompanhar o mercado internacional de cereais.

Depois a Terezinha acabou por convencer a Maria que ela ainda poderia dispender de um tempinho para irmos tomar um café antes de nos levar para o hotel. Saímos do interior do shopping para o estacionamento e fomos nos direcionando para um café que fica ainda dentro do recinto do shopping, tipo uma esplanada. Nisso vem ter comigo um senhor, simpático e sorridente, e já me vai estendendo a mão para uma troca de apertos de mão e me diz: “ Tudo bem? Estive consigo no aeroporto...” Porra!!! Estes gajos me apanharam. Não paguei o almoço do homem. O sorriso dele me faz lembrar muito o do rapaz simpático do aeroporto. Deve fazer parte do grupo cobrador de pedágio para que as malas sejam abertas. Pelo menos uma delas!

Antes que pudesse eu viajar ainda mais na maionese, sinto a mão da Teresinha agarrar-me o braço e a dizer-me: Não dês asa a esse gajo. Puxa conversa contigo e daqui a pouco está a te pedir dinheiro. Quando olhei para tentar marcar a cara do senhor simpático já não lhe pus os olhos. Mandou-se! Acho que o gajo reconheceu a voz da Terezinha de alguma outra ocasião.

Amanhã tem Piri-Piri...

5 comentários:

  1. A prima Teresinha e sobrinha Maria salvando a "pátria" :-)

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  2. Gostei do São Marchilde....Sommerschield...não estou a criticar nem no gozo...gramei maningue mesmo.Abraço.

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  3. Puxa, parecem formigas, estão em toda a parte... Já estavas a ver ser cobrado, de novo, por causa das malas ehehehehe
    A salvação parece que está sempre nas pessoas que lá vivem, que os conhecem e sabem como agir!
    Valha-nos isso...

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    1. Sem dúvida, Graça.
      Mas Moçambique é porreiro... continua porreiro!

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